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                                                                                       Alimentação e saúde bucal estão diretamente ligadas

Especialista explica a ação do açúcar nos dentes e a importância do consumo moderado.

Foto: Pixabay  

O Dia Mundial da Alimentação foi celebrado em 16 de outubro. A data visa promover a informação e melhorias em torno dos hábitos alimentares da população. Além de garantir a sobrevivência, os alimentos contribuem para a manutenção da saúde e qualidade de vida. Quando pensamos em alimentação e saúde bucal, uma das principais preocupações envolvem os açúcares. Isso porque, basicamente, ele é fator preponderante no aparecimento da cárie dental.

Como explica o cirurgião-dentista Nívio Fernandes Dias, membro da Câmara Técnica de Dentística do Conselho Regional de Odontologia de São Paulo (CROSP), a cárie, para existir, precisa de açúcar frequente na boca, e não, necessariamente, da quantidade de açúcares. “Por exemplo, se comer uma barra de chocolate inteira terá um efeito, mas se pegar essa barra de chocolate, quebrar em 10 pedacinhos e comer um pedaço a cada meia hora, terá um efeito 10 vezes maior”. Isso acontece porque existe no dente o biofilme, que é a placa bacteriana que está presente na boca. Ela só sai com a limpeza, com a escovação e com o uso do fio dental. A placa, portanto, está presente na boca o tempo todo.

O processo – Dr. Nívio detalha que, na hora que comemos algo com açúcar, como uma bala, um sorvete, uma bolacha recheada, um café com açúcar ou leite com chocolate, esse açúcar vai permear a placa, vai estar dentro da placa bacteriana. “Existem bactérias que precisam desse açúcar para produzir energia para sobreviver. Elas o metabolizam para produzir energia. O subproduto disso é um ácido que liberam, chamado lático, o mesmo ácido que é liberado no músculo quando fazemos atividade física. Quando o músculo começa a queimar, é o ácido lático que está sendo produzido e liberado na produção de energia. É a mesma coisa, só que no dente: esse ácido, em contato com o dente, começa a corroer o esmalte” e a desmineraliza-lo.

O dentista compara esse processo a uma casinha cheia de tijolos; cada tijolo é um cálcio e ele vai saindo quando o pH da boca está baixo pela ingestão de açúcares. Depois de algum tempo a saliva lava e vai elevando o pH da própria saliva; depois, vai recolocando esses tijolinhos de cálcio no dente, ou seja, fazendo a remineralização. “A placa provocou a desmineralização e a saliva a remineralização. A cárie se instala quando existe um desequilíbrio nesse processo. O consumo frequente de açúcar durante o dia faz com que eu tenha um desequilíbrio e essa balança vai pender para a desmineralização. A partir daí, o dente começa inicialmente com uma mancha branca, essa mancha vira uma cavidade e essa cavidade, uma cárie”.

Prevenção – A doença conhecida como cárie, de acordo com o Dr. Nívio, não se resume ao buraco no dente. O buraco no dente é um sinal da cárie. Ele explica que a cárie, assim como a catapora, é uma doença única que se manifesta por meio de várias feridas. “Não temos, por exemplo, 10 cáries, temos 10 lesões de cárie, ela é uma doença única também. Restaurar essas lesões é um tratamento para o sinal da doença e não para a doença. Portanto, o tratamento da cárie, entre aspas, é a prevenção, o conhecimento, explicar ao paciente os malefícios do consumo frequente de açúcares e o que eles podem causar. São os açúcares mais simples, sacarose e glicose, que são facilmente metabolizados pela placa bacteriana”.

Segundo ainda o Dr. Nívio, quando falamos em açúcares e carboidratos dos alimentos, como arroz, batata, mandioca e frutas, dificilmente haverá uma desmineralização grande a ponto de poder causar uma lesão de cárie. Ele lembra também que a cárie depende basicamente de prevenção e que o único medicamento que “ajuda” a manter o equilíbrio quando a pessoa ingere açúcar é o flúor.

A presença do flúor na boca ocorre por meio da utilização de cremes dentais e nas aplicações em consultórios. “O flúor presente na boca frequentemente faz com que o esmalte do dente fique mais protegido da cárie dental. Portanto, ao escovar os dentes com creme dental com flúor, promovemos a presença dele na boca durante o processo de desmineralização. Quando o dente vai ser remineralizado pela saliva, esse flúor entrará no dente tornando-o mais resistente”.

Tempo certo para a escovação – Após a alimentação, promover a higienização dos dentes é fundamental. Contudo, existe um tempo certo para realizar a escovação. Segundo Dr. Nívio, quando acabamos de comer não devemos escovar imediatamente os dentes, pois quando ingerimos um alimento, o pH da boca está ácido e os dentes estão sendo corroídos. Ele explica que, se além da corrosão química, que é chamada de biocorrosão, esfregarmos os dentes durante a escovação, aumentaremos o dano.

“Antes se falava “comeu, escovou os dentes”, hoje não faz sentido assim. O ideal seria se eu pudesse escovar os dentes antes de comer porque aí eu removeria a placa bacteriana e não teria tantas bactérias para causar o dano, mas isso é muito pouco provável que aconteça. Então, o ideal é aguardar pelo menos de meia hora a quarenta minutos para fazer essa escovação, principalmente se houver ingestão de doces durante essa refeição”, conclui Dr. Nívio.

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